A Zona Rural de Londrina guarda algumas relíquias da História da cidade, que começou na década de 30 do século passado. Algumas destas relíquias são as pequenas igrejas com torres de madeira que lembram foguetes, inspiradas no contexto das primeiras viagens espaciais feitas pela Humanidade.

Outros tesouros históricos são as escolas rurais, com sua arquitetura igualmente típica. Preservar a memória destas escolas é o objetivo do projeto “MEL – Museu Escolar Londrinense: modos de construir, ensinar e viver culturas na Escola Municipal ‘Urandy Andrade Correia”, coordenado pela professora Sandra Regina Ferreira de Oliveira do Departamento de Educação/CECA e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina.

O projeto, que é tanto de pesquisa quanto de extensão e ensino, teve início oficialmente em setembro de 2018, mas sua concepção, segundo a professora Sandra, veio bem antes, de uma vontade de preservar a história e a memória das escolas municipais de Londrina, a partir de uma delas: a Urandy Andrade Correia, que ficava no distrito de Guaravera. Uma típica escola rural, dentro de uma propriedade particular, construída em duas águas, com 60m2, sala única e banheiro, mais um anexo que funcionava como casa da professora. Aliás, até hoje uma professora vive lá.
Previsão de duração do projeto é de 10 anos. Documentos e demais objetos contam história das escolas.

Sandra conta com a participação da professora da rede municipal Eliane Aparecida Candotti, mestre e doutoranda em Educação pela UEL, e que coordena o projeto “Conhecer Londrina”, da Prefeitura de Londrina. Ela desenvolveu um estudo sobre a escola, situada na Colônia Saúde, em Guaravera, construída em mutirão e preservada, mas desativada há mais de 20 anos.

A escola Urandy Andrade Correia funcionou de 1968 a 1995. Depois disso, até 2011, foi sede de uma associação da comunidade japonesa da área, onde muitos proprietários de terra, incluindo aquela onde ficava a escola, eram colonos japoneses. Neste ponto, a Sandra destaca a assistência da professora Estela Okabayashi Fuzii (diretora do Núcleo Estudos de Cultura Japonesa da UEL – NECJ), fazendo uma ponte entre o projeto e a comunidade japonesa e o proprietário da terra onde estava a escola.

Todos esses verbos no passado indicam que a construção não existe mais em Guaravera. Como parte da primeira etapa do projeto, ela foi desmontada e suas partes estão sob responsabilidade da UEL, guardadas no espaço do Sistema de Arquivos da UEL (SAUEL). Aqui, a professora Sandra lembra da colaboração do professor aposentado Antonio Carlos Zani (Departamento de Arquitetura e Urbanismo/CTU).

A ideia é remontar a escola próximo à Casa do Pioneiro e à réplica da primeira Igreja Matriz de Londrina, entre o CCH e o CESA, criando o Museu da Escola Londrinense (também como projeto de extensão) e enriquecendo o local, que já pode ser chamado, como Sandra observa, de “Praça da Memória”. O projeto também já tem objetos da escola, como equipamentos e carteiras escolares. Lá, será possível contar a história das escolas municipais.
Coleta do material, que começou em março do ano passado, foi concluída no final de maio deste ano.

Política de guarda

A coordenadora do projeto lembra que a Prefeitura de Londrina não possui uma política de guarda de memória que centraliza e organiza os documentos de suas várias unidades e instâncias. Assim, cada Secretaria segue seu próprio sistema. A professora fala de um conjunto de casas antes pertencentes ao Instituto Brasileiro de Café (IBC), localizadas na zona oeste, na saída para Cambé, em que ficam muitos documentos e outros itens, e numa das quais estão os da Secretaria de Educação. Foi de lá que veio, por empréstimo, grande parte do acervo estudado pelo projeto. O foco é a documentação pedagógica, ou seja, materiais como cadernos de alunos e livros de chamada dos professores.

A coleta deste material começou em março do ano passado, mas por causa da quarentena, acabou parando e só foi retomada este ano, quando foi concluída no final de maio. Tudo está sendo higienizado e organizado para depois ser digitalizado e reorganizado – esta é a segunda grande etapa do projeto, ainda a ser iniciada. O material está em uma sala emprestada no antigo prédio do PDE, perto do CEI/UEL. Sandra lembra que o projeto recebeu orientações (via cursos) da equipe do NDPH (Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica da UEL/CCH) quanto à higienização e manuseio dos documentos. Aliás, uma sala do Centro de Letras e Ciências Humanas (sala 164), também foi cedida ao projeto para atividades.

Pesquisas

Outro objetivo do projeto, que de acordo com a coordenadora deve durar pelo menos 10 anos, é criar o CPMEL – Centro de Pesquisa em História e Memória da Educação Escola Londrinense. Formalmente, um Laboratório, ligado a um projeto de pesquisa, para ampliar os estudos. A professora Sandra conta que já foram desenvolvidas várias pesquisas de Mestrado e Doutorado a partir da documentação, e um bom número de estudos já foram publicados pelos participantes do projeto, que inclui estudantes de graduação de vários cursos (Iniciação Científica) e pós-graduação (Mestrado e Doutorado), além dos professores do Programa de Pós graduação em Educação da UEL, Tony Honorato do Departamento de Educação e Marlene Rosa Cainelli do Departamento de História.

Além de todos os bons resultados acadêmicos, Sandra é muito enfática na característica que, segundo ela, garante o sucesso do projeto: a colaboração de muitos agentes. Vários já foram citados, mas ela ainda anota colaboradores como a professora Diana Vilas Boas Souto (Departamento de Ciência da Informação/CECA), do professor Gilmar Altran (Educação) e da Prefeitura Municipal, que confiou a documentação ao projeto e ainda forneceu prateleiras, caixas de arquivos (são mais de 2 mil, segundo a professora) e uma funcionária, por 20 horas semanais, para ajudar: Rosemeire Lopes Ferreira, que também é mestranda em Educação na UEL.

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