Entrevista com a professora do PPEdu, Drª. Adriana Regina de Jesus, realizada pelo jornalista Leonardo Valle do Instituto NET Claro Embratel, a respeito da pesquisa desenvolvida.

A transição da educação infantil para os primeiros anos do ensino fundamental pode ser brusca para os alunos. Pensando nisso, a doutora em educação e professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Adriana Regina de Jesus, foi a campo ouvir o que os estudantes de 4 a 10 anos achavam da escola.

As pesquisas foram realizadas em um colégio estadual de Londrina (PR) e mostraram diferenças entre as duas etapas de ensino. Enquanto, na faixa etária de 4 a 6 anos, a escola era vista como um espaço de brincadeira, ludicidade e descobrimento, crianças de 6 a 10 anos a entendiam como um local sem nenhum encantamento.

“Levei um boneco de extraterrestre para os alunos relatarem suas impressões da escola para ele. Na educação infantil, elas falaram para o ET que o que mais gostavam era brincar, desenhar, divertir-se e ouvir histórias”, conta. “Elas percebiam a escola como um espaço que promove brincadeiras, um espaço de aprendizagem.”

Já as crianças do fundamental relataram que o espaço era muito diferente da etapa anterior. “Era chata, pois ficavam copiando atividade do quadro o tempo todo. Não brincavam mais, e não entendiam muito bem o conteúdo”, revela.

Dois pontos de diferença entre os depoimentos chamaram a atenção da pesquisadora. O primeiro foi a ausência da ludicidade. O segundo, a relação estabelecida entre professor e aluno no ensino fundamental.

“A escola nesse nível de ensino é percebida como um local onde se aprende a ler e escrever e a brincadeira não faz parte do cotidiano, pontua. “O brincar é uma das principais linguagens da infância e é indispensável para o desenvolvimento humano. Ele é carregado de significados que extrapolam nossa compreensão de adultos. Pelo brincar, a criança se sente livre para expressar seus sentimentos e  analisar os fatos do cotidiano sob sua ótica infantil”, defende.

No segundo caso, os alunos foram unânimes em dizer que a professora ‘ficava brava’ e ‘gritava’ quando eles faziam perguntas ou não entendiam um determinado conteúdo. “Foi possível constatar que o diálogo não é muito presente”, analisa.

Para Jesus, muitos docentes desenvolvem ações que se distanciam da construção do pensamento crítico. “Ficou evidente a não mediação do professor no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem, implicando em uma aula sem questionamento”, ressalta. “São ações voltadas à racionalidade técnica do pensamento e que se distanciam de um projeto de formação  humana.”Pedagogia da escuta Jesus ainda questionou os estudantes de 10 anos sobre o que eles mudariam.

“Podia parar de copiar texto. A gente copia muito texto”, disse Gabriele. “Eu gosto de correr, brincar de futebol. A escola podia deixar a gente brincar mais”, afirmou Kauê. “A professora podia ensinar a gente, mas ela não tem tempo para ajudar”, completou Ala. Para a pesquisadora, diversos fatores contribuem para que a aprendizagem ocorra nas condições relatadas pelos estudantes. “Falta uma política de valorização do professor, mas também a ressignificação do espaço escolar”, opina.

“Não podemos simplesmente transmitir conhecimento, se estes não estão relacionados com a prática social do estudante. Há a necessidade da escola romper com a instrumentalização do ensino que se materializa por meio de atividades de cópias e avaliações que não tem foco na aprendizagem formativa”, explica. “A escola pode ser um lugar da admiração e de prazer.”

Segundo a pesquisadora, ouvir as crianças e pensar a transição entre a educação infantil e o ensino fundamental de forma humanizada, sem esquecer o lúdico nas ações pedagógicas, são passos a serem seguidos. “Nosso desafio é ressignificar o cotidiano escolar, levando em consideração essas narrativas.

Precisamos desenvolver a pedagogia da escuta”, sugere. “Os alunos conhecem a escola em sua inteireza e esse conhecimento pode ser fundamental na prática pedagógica”, finaliza.

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