Conhecer a opinião de crianças, da Educação Infantil e Ensino Fundamental, de uma instituição pública de Londrina, sobre a escola que frequentam. Esse foi o objetivo do projeto "Narrativas Infantis: O que as crianças falam sobre a escola?", sob responsabilidade da professora Adriana Regina de Jesus, do Departamento de Educação, do Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA).
A pesquisa foi desenvolvida durante o pós-doutorado da professora Adriana, sob orientação da professora Iduína Mont´Alverne Chaves, na Universidade Federal Fluminense (UFF). O levantamento inclusive faz parte de uma pesquisa interinstitucional denominada: "Narrativas Infantis: o que contam as crianças sobre as escolas da Infância", que, além de Londrina (PR), também foi desenvolvida nas cidades de Natal (RN), São Paulo (SP), Recife (PE) e Niterói (RJ). O objetivo foi compreender as significações construídas narrativamente por crianças de 4 a 10 anos de idade.
E para coletar as opiniões das crianças de maneira lúdica e divertida foi preciso a ajuda de um personagem, chamado de ET. Com o uso deste recurso a professora conversou com as crianças. "O que eu percebi com a pesquisa é que a escola se tornou um lugar chato, sem mencionar a falta de diálogo entre aluno e professor. O centro do processo reside na preocupação do professor se vai dar conta do conteúdo ou não, pois ele será cobrado por isso", diz a professora.
Professora Adriana de Jesus, do Departamento de Educação. Personagem ET ajudou na interação com as crianças
Segundo ela, infelizmente, o aprendizado é prejudicado quando o aluno vira um "copista". "Não é possível jogar a responsabilidade para a professora, mas eu vejo que o próprio sistema educacional não possibilita essa interação entre professor e aluno por meio do diálogo, o que leva o profissional à acomodação dentro desse processo", aponta.
Ela defende a participação da criança no processo ensino aprendizagem, não o modelo em que o adulto define o que será ensinado. Ainda, conforme avaliação da professora, com base no relato das crianças o Ensino Fundamental, por exemplo, é um lugar triste e ruim. "Ficou muito evidente neste projeto que a formação humana é descartada, porque o que importa é passar conteúdo. Mas o que a criança pensa, o que ela sente, não é considerado, não tem importância. O preocupante é que existe um padrão", ressalta a pesquisadora.
O fato é que, conforme reforça Adriana, a pedagogia da escuta não acontece, uma vez que os sujeitos dos processos não são ouvidos. Ela ainda destaca outro complicador, em que a Universidade forma o professor, mas quando ele chega na escola já existe uma padronização do ensino. Ou seja, é um sistema que "não ouve nem as crianças, nem os professores".
Personagem
Sem dúvida, o uso do personagem, confeccionado exclusivamente para a pesquisa, foi um facilitador, pois serviu como uma linguagem de mediação entre a pesquisadora e as crianças. O ET foi uma espécie de ouvinte atento às impressões e relatos dos alunos sobre a escola, a partir de perguntas como: Vocês acham que o ET vai aprender aqui na escola?; "O ET vai gostar da escola?". "O boneco possibilitou uma narrativa por meio de uma situação lúdica, que levou as crianças a falarem de maneira mais descontraída sobre o ambiente escolar", aponta a professora Adriana. E a tática funcionou com crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.
Em resumo, na avaliação da professora, o diálogo na escola é fundamental para garantir o ensino/aprendizagem. Outro ponto importante, segundo a professora, diz respeito à autonomia do professor, ou seja, permitir que o profissional tenha autogoverno. "Não é possível pensar que uma criança de 11 anos é um adulto. Portanto, falta o trabalho com a criatividade e a imaginação, que a escola ainda deixa de lado", diz.
Confira trechos de depoimentos:
"Podia para de copiar texto. A gente copia muito texto. A professora sempre pede para a gente copiar as coisas" (Gabriela, 10 anos).
"Eu gosto de correr, brincar de futebol. A escola podia deixar a gente brincar mais. Eu gosto da escola, mas às vezes é chata, pois a gente não brinca" (Kaue, 10 anos).